quinta-feira, 9 de novembro de 2017

UMA TARDE EM IPANEMA




Como de costume, cheguei ao Pet Place e fui falar com o meu gerente para saber as demandas do dia. A loja, localizada à rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, tinha uma vitrine linda, com um vidro límpido e transparente, repleta de novidades que chegavam do exterior. Era reduto de madames e gente rica. Com isso, o atendimento deveria ser feito da forma mais polida possível tendo em vista o público exigente que ali frequentava. Naquela manhã, algumas caixas de papelão haviam chegado com materiais de reposição de estoque e eu teria que organizar tudo — era bom nisso e meu patrão sempre reconhecia meu capricho e perfeccionismo na arte da arrumação. Entre os itens das caixas tinham remédios, coleiras e tudo relacionado ao universo pet. A rotatividade de animais também era grande, porém, toda semana uma moça loira levava o seu cachorro para realizar um tratamento com banho antialérgico, um serviço diferenciado que tínhamos na nossa loja e despertava a atenção de clientes mais exigentes. Religiosamente, toda Quinta-feira aquela moça bonita e educada entrava na loja, cumprimentava a todos com muito carisma e eu, como um simples funcionário educado que deveria ser, retribuía com um sorriso no rosto e continuava os meus afazeres. Lá eu fazia um pouco de tudo – organizava prateleiras, realizava a limpeza matinal antes de abrir para o público, polia as vidraças com papel toalha e álcool, recebia pedidos por telefone, atendia os clientes. Exemplo de funcionário que detinha a confiança dos patrões – dois idosos suíços que moravam no Rio de Janeiro há mais de 20 anos.
Passei a semana inteira realizando as mesmas tarefas, pegando o metrô lotado para a Pavuna, chegando em casa por volta das 22h. No dia seguinte eu acordava às 05:30h, sobressaltado, com medo de perder o horário e a condução. Só dava tempo de passar um café rápido e engolir um pedaço de pão. Sempre tinha duas camisas com o logotipo do petshop para fazer um revezamento semanal, já que eu não gostava de perder tanto tempo colocando roupas para lavar. Fazia tal atividade duas vezes na semana, no máximo.
A minha vida lá na Pavuna não era tão fácil. Sentia muita falta de alguém para me ajudar com as tarefas domésticas. Mas, como eu ganhava razoavelmente pouco e precisava custear um curso de francês, o jeito era arregaçar as mangas e economizar.
Meus pais moravam em uma cidade do interior da Bahia, Itabuna, e eu sentia muita falta do aconchego da família vivendo em uma cidade grande como o Rio de Janeiro. Mas, como desde a minha adolescência sempre sonhei em ter uma vida independente, digna e estável, decidi que morar fora da Bahia seria uma oportunidade interessante para amadurecer, estudar, conhecer pessoas com uma mentalidade diferente daquelas as quais eu já estava acostumado. Meu crescimento dependia de duas coisas: força e coragem. Força para encarar os desafios e coragem para deixar tudo para trás. Família, amigos de escola, de rua, almoço nas casas dos tios aos domingos, missa com os pais aos finais de semana —essa seria, sem sombra de dúvidas, a parte mais difícil. Mas era necessário. Eu sempre ouvi e segui minhas intuições. — Aquelas vozes que pulsam na consciência e te dizem para seguir em frente.
Durante seis meses eu comecei a traçar um plano de ação que mudaria completamente a forma como eu vivia e interagia com o mundo. Passeando por alguns sites da internet, deparei-me com um livro intitulado “Poder Sem Limites”. Era uma capa simples, mas com uma frase de efeito bastante forte. Fiz o download de uma amostra e, logo após a leitura de algumas páginas, decidi comprá-lo. Quando estamos imersos em vontades e desejos, qualquer estímulo, por menor que seja, sempre nos ajuda, impulsiona e alimenta nossos pensamentos. E naquela noite foi isso que aconteceu. Senti uma força vindo de dentro, uma confiança em tudo que eu havia aprendido dentro de casa, com a minha família. Nas aulas de inglês que eu fazia todos os sábados em um curso comunitário da minha cidade. Ainda não sabia nem me dava conta, mas aquilo era evolução. Amadurecimento e crescimento combinados. Minha rotina em Itabuna foi ganhando um brilho que até então não existia, fruto daquela leitura maravilhosa. Fiquei tão eufórico que passei a acreditar e a ser mais fiel às minhas crenças. Sabe quando algo chega até nós e nos transforma para melhor? Melhor descrição não há.
Porém, eu precisava organizar minhas finanças e levar a sério a ideia de sair da Bahia. Fechava os olhos, meditando, contemplando a cidade (que era, mas estava longe de ser) maravilhosa. Nesses momentos de intensa imersão em pensamentos, eu me projetava naquele lugar. Imaginava como seriam as pessoas, os gestos, a forma de falar, as praias, o metrô. Enfim, tudo. Qual ônibus pegaria para o trabalho? Em qual bairro seria melhor viver para desfrutar de certo conforto e praticidade? Quanta conta teria que pagar todos os meses? Eram tantos questionamentos! Cogitei viver em albergues, dividir aluguel com estudantes. — Uma infinidade de dúvidas. As possibilidades eram muitas — e isso me alegrava.
Foram dias de batalha e obstinação. Não saía com amigos, recusava convites para festinhas, cinemas. Tudo! A minha prioridade, naquele momento, era viver no Rio de Janeiro e, para isso, teria que economizar ao máximo. Comentei poucas vezes com “mainha” sobre a minha necessidade porque ela sempre ficava triste quando eu tocava nesse assunto. Dona Odete era mãe de 5 filhos. Eu era o caçula. Os demais já estavam encaminhados na vida, como ela costumava falar.
Comecei fazendo muita pesquisa, muita busca sobre bairros que não eram tão perigosos. A região central seria a mais interessante para eu tentar morar e trabalhar. Porém era muito cara — algo extremamente desanimador. Confesso que fiquei assustado e não tinha ideia da dimensão de algumas coisas em uma cidade grande. Na Bahia geralmente nossas compras de mês eram feitas em pequenas mercearias ou “vendas”. Meu pai pagava mensalmente e sempre que faltava algo recorríamos a esses lugares — era fácil e prático. No Rio de Janeiro seria muito diferente. Mas eu não podia desanimar frente a esses embates. Fazia parte do processo ter que me esforçar e correr atrás do que eu acreditava ser melhor para mim.


8 MESES DEPOIS
Não acontecia muita coisa interessante na minha vida. Aos finais de semana, eu ia à praia com os amigos, também na Zona Sul. Eu gostava daquele ar despreocupado que os ricos tinham, muito diferente da Pavuna. — Contraste notório e por vezes chocante, tendo em vista que perto do meu condomínio existia uma boca de fumo. Porém, fora daquele contexto pesado que era o meu bairro, somente uma coisa que conseguia me arrebatar daquela realidade: era o sorriso de Mayara. Aquela menina mexia comigo sempre que dava o ar da sua presença lá no petshop. Como eu já disse, ela era loira, devia ter 1,55m de altura e extremamente educada. Uma vez chegou à loja com uma calça tipo legging, daquelas bem apertadas, que as meninas usam para malhar. Era visível o volume que sua vagina provocava naquela roupa. Surtei e meu coração deu uma acelerada. Fiquei atordoado com aquilo tudo e precisei agachar, fingindo organizar algo nas prateleiras debaixo, na tentativa de esconder uma ereção que me tomou após aquele episódio. Meu pênis não era muito grande, mas o volume de uma ereção, como vocês sabem, deixa qualquer homem visivelmente constrangido, ainda mais em público, no ambiente de trabalho. Cogitei a hipótese de alguém me notar naquele estado e, na mesma hora, a excitação passou. Entretanto, passei a tarde toda pensando naquela garota.
Definitivamente eu estava muito aquém dos padrões de beleza que aquela menina devia possuir. Vindo de uma cidade do interior de um Estado do Nordeste, pobre, negro. Com certeza Mayara só ficaria em meus pensamentos e devaneios. Uma vez tentei puxar assunto, mas fui interrompido pelo meu supervisor de forma tempestiva, quase cruel. Recuei. — E refleti muito em cima daquilo.
Na pior das hipóteses eu receberia uma chamada em particular, mas para minha felicidade, não aconteceu.
A cintura torneada, as pernas grossas da academia, o cabelo sempre perfumado e leve. Mayara arrancava de mim muitos suspiros e pensamentos por vezes pecaminosos. Fui criado dentro do catolicismo, mas nunca levei as questões bíblicas muito a sério. Então, tinha uma certa liberdade de pensamento acerca de questões relacionadas a sexo. Sem contar o fato de eu estar solteiro. Não havia nada que me impedisse de viajar nas curvas de May. Era muito difícil quando ela adentrava a loja, sempre com tanta simpatia e carisma, ganhando a todos que estivessem ao seu redor. A minha excitação era tanta que uma vez não resisti e fui ao banheiro aliviar a necessidade que eu tinha de desvendar mais daquele corpo. Gozei em dois minutos, manipulando meu membro já inchado e duro, louco por Mayara. Isso era coisa rara de acontecer, pois eu sempre demorava para alcançar o ápice do orgasmo. Porém, até que aquela situação era compreensível porque eu não tinha relações sexuais há mais de dois meses. Após o término de um namoro conturbado, eu havia decidido que não me relacionaria tão cedo com qualquer mulher. A prioridade, naquele momento, era o meu trabalho e minha família. Mas Mayara, com sua beleza e carisma tão marcantes, conseguiu derrubar essa fortaleza que eu havia construído ao meu redor.
Especialmente naquela semana, a menina loira, responsável pelos meus devaneios sexuais, não havia aparecido na loja, como era de costume. Eis que o meu patrão atendeu um telefonema e, logo em seguida, me chamou para fazer um pedido.
— Carlos, você lembra da Mayara, a moça que sempre vem dar o banho antialérgico naquele shihtzu marrom? — meu chefe indagou.
— Claro que sim, sei quem é. Todas as quintas ela vem e traz o seu cachorrinho para o banho. O que houve que essa semana ela não apareceu? — disse, um pouco apreensivo e impaciente. — Será que Mayara apareceria na loja naquela tarde? Sempre que eu começava a pensar em May, sentia que algo dentro de mim entrava em rebuliço, ficava extremamente instável, ansioso e com o coração acelerado, palpitando.  
Alberto, meu supervisor, continuou:
— Então, rapaz, ela está com um problema em casa e não pôde trazer o bichano para tomar banho essa semana e me perguntou, agora, por telefone, se eu poderia mandar alguém em seu apartamento para buscar o animal. Como você sempre me ajuda com tudo, queria que você fosse lá, até o apartamento de Mayara, para trazer o animal para o banho. Pode ser? Hoje o movimento na loja está baixo e acho que posso te liberar para fazer isso sem problemas.
— Com certeza, Alberto! Sabe que pode contar comigo sempre que precisar. Mas, preciso do endereço. — num mister de excitação e euforia eu estaria com Mayara. Só eu e ela. Fiquei extremamente atordoado com a ideia de ir até a residência daquela que era a protagonista das minhas fantasias sexuais mais sujas e devassas. Em meus pensamentos, eu já tinha transado com Mayara de diversas formas e em todas as posições, sempre com muita intensidade e luxúria. Era só eu fechar meus olhos e imaginar aquela vulva que seria rosa e apertadinha, toda molhada, com cheiro de suor da academia, pulsando e latejando. Doida. Sôfrega. Entregue. Queria sentir seu clitóris esfregando no meu rosto e língua, num sobe e desce frenéticos.... Eu precisava controlar esses pensamentos porque meu pau latejava dentro da calça jeans, duro, teso. Fiquei com o corpo quente, enrijecido. Louco de vontade de ter Mayara se deliciando em mim. Mas logo vinha meu freio moral. — Eu precisaria, antes de tudo, ser extremamente solícito e profissional, como havia aprendido desde quando cheguei para trabalhar no Pet Place. Meus patrões foram muito enfáticos e rígidos quando me disseram que o diferencial daquele estabelecimento era o atendimento e profissionalismo. Não poderia correr o risco de perder o emprego e ficar à mercê, tendo que ir em busca de algo novo.

 Entretanto, sempre tive uma energia sexual muito à flor da pele. Certa vez, dentro do metrô, tive que colocar minha mochila em cima do colo para esconder uma ereção. Era muito constrangedor. Chegava em casa e, na hora do banho, eu sempre me aliviada com vídeos pornôs. E de uns tempos para cá, eu dava prioridade aos que tinham mulheres loiras e novinhas, reavivando a imagem daquela gostosa que sempre atordoava minha cabeça. Mayara tinha uma energia peculiar. No fundo, no fundo, ela também tinha cheiro de sexo, de fêmea no cio. De mulher que sabia ser tudo na cama.
— Carlos, ei, acorda! Está viajando?
Passando as mãos num movimento de vai e vem, como se tentasse me chamar para a realidade, Alberto chamou minha atenção.
— Desculpe, chefe. Acabei me distraindo pensando em algumas coisas. — fiquei atordoado e corado. Envergonhado. Por alguns minutos acabei me desligando completamente do que estava fazendo na loja.
— O endereço está aqui. Veja bem, Carlos, Mayara é nossa cliente e merece atendimento VIP. Não esqueça de perguntar a modalidade de pagamento, pois, de vez em quando, ela realiza transferências bancárias para a conta do proprietário. Lembre-se de pedir para Mayara enviar o comprovante, caso seja por transferência, para o e-mail da loja. Não faça como daquela vez em que você esqueceu.
— Tudo bem, Alberto! Pode deixar. — Peguei o endereço que meu gerente havia deixado no balcão e fui até o apartamento de Mayara. Não era muito longe dali, cerca de dois quarteirões e eu chegaria em dez minutos. Chegando na portaria, fiz minha identificação e o vigia do prédio interfonou para o apartamento 507 (nunca esquecerei esse número). Subida autorizada, coração palpitando de ansiedade e eu meio sem entender o porquê daquilo tudo. Afinal, eu só pegaria o animal e o levaria até o pet para tomar banho.
Toquei a campainha e a moça loira me atendeu, visivelmente apressada e toda suada. Ela havia acabado de chegar da academia e estava no ponto do abate para um bom sexo. — pensei.
Eu nunca fui do tipo safado, mas Mayara brincava de ser naturalmente sexy e gostosa. Os feromônios daquela ninfeta eram enlouquecedores para um homem como eu, que guardava tanta energia sexual e não dormia sem bater uma boa punheta.
— Você é o rapaz do pet que veio buscar o Joe para o banho? —  Perguntou Mayara, com a porta ainda entreaberta.
— Sou eu mesmo, muito prazer! Meu nome é Carlos e vim levar o seu filhote para ficar limpinho e cheiroso. — Respondi, um pouco desinibido e tentando criar mais intimidade e ainda aproveitei para fazer alguns comentários sobre o apartamento.
— É grande aqui, não é? O Joe nem deve sentir falta de passear na rua com um apartamento tão arejado e espaçoso. — Jurava, naquele momento, que ela me ignoraria e adiantaria meu lado para que eu saísse de lá com o cachorro o mais rápido possível. Mas, não. Ledo engano.
— Então, moço, você está com muita pressa? É que eu preciso tomar um banho rápido para sair, prometo não demorar. Pode sentar-se ao sofá e me aguardar? — disse, oferecendo-me um copo de suco logo em seguida.
— Fique tranquila, dona Mayara. — Respondi, meio tímido e passando a mão sobre o cachorro, sentado no sofá.
— Dona Mayara? Caramba, me senti como uma idosa de cem anos agora. Pode me chamar pelo nome, sem cerimônias. Temos quase a mesma idade.
Mayara tinha um jeito bastante despojado e espontâneo, mas eu não poderia ir mais longe. Teria que ser forte e consciente dos atos.
“Seja profissional e solícito”. — Essas duas palavras sempre surgiam quando eu achava que estava cometendo algo errado. Sendo antiético e oportunista, continuando naquele momento de recepção e descontração ela disse:
—Tudo bem, então, mas sem querer abusar da sua boa vontade, será que você poderia dar uma olhada no meu chuveiro? Acho que ele entupiu, porque desde ontem a água tem caído muito fraca. O rapaz que cuida desses pequenos serviços aqui no condomínio adoeceu e não tenho a quem recorrer. Como você já me conhece e já está aqui em casa, me sinto mais segura e menos vulnerável. Mulher sozinha em casa sabe como é, nesse mundo cheio de violência e atrocidades é sempre melhor recorrer a conhecidos. Não vai me dizer não, não é mesmo? — Como recusar? Pensei.

Sozinha. Não acreditei quando ouvi aquela deixa.
Fiquei tenso e com o corpo enrijecido. Aquela não era minha função. Não estava sendo pago para fazer serviços extras, mesmo sabendo trocar um chuveiro como ninguém. Lá em casa, por causa da minha estatura (cerca de 1,85) eu sempre era a “bola da vez” para realizar serviços que necessitassem de uma pessoa alta. No entanto, Mayara com sua presença perturbadora conseguia me tirar do ponto de equilíbrio com extrema facilidade. Eu não poderia ficar excitado diante daquela situação, mas foi inevitável. Mayara pegou uma escada com cerca de três degraus, dessas domésticas utilizadas para pequenos serviços e trouxe até o banheiro. Consegui disfarçar a ereção enviando pensamentos aleatórios para a minha cabeça. Comecei a pensar nos problemas da minha família, nas dívidas que eu tinha acumulado e precisava me desdobrar de trabalhar para pagá-las. Aproveitei enquanto ela tinha ido à cozinha para colocar meu pau para baixo, mesmo ereto, para disfarçar o volume da calça. Por menor que fosse o estímulo, eu me excitava com muita facilidade e aquilo me atrapalhava em alguns momentos.
May chegou ao banheiro e eu já estava em cima de uma pequena escada,  dessas utilizadas para pequenos serviços domésticos desenroscando o chuveiro, quando senti sua mão apoiando meu bumbum — ela disse que estava me protegendo para que eu não caísse. Ali eu encarei a situação com maldade e entendi o que ela estava intencionando. Quase saltando pela boca de nervosismo, meu coração acelerou ainda mais. Não era possível que aquilo estava acontecendo comigo. Mayara estava enrolada numa toalha branca, ainda suada do treino, com o rosto ruborizado — uma delícia de se ver

Desci da escada com o chuveiro na mão, cuidadoso para não escorregar naquele banheiro, quando a moça loira me puxou pelo ombro e me agarrou num beijo de língua demorado, sem que eu esperasse para tal. Fiquei estático, sem entender o que estava acontecendo. A sua língua quente e úmida, entrando e saindo da minha boca, trabalhava com uma maestria profissional. A menina loira começou a arranhar minhas costas por cima da camisa, me apertava com tanta vontade e tesão. Fiquei perplexo, sem acreditar, querendo mais de Mayara. Naquele momento não pensei em mais nada. Nem em seu noivo ou no meu patrão, que devia estranhar minha demora. 
Com muita destreza e segura de si, May colocou-me sentado no degrau da escada e sentou no meu colo, pressionando a bunda por cima do meu pau, a essa altura do campeonato já latejando, pulsando, extremamente duro e teso, querendo penetrá-la de todas as formas. Procurei me controlar, mas aquele momento de entrega não permitiu. Finalmente eu estava realizando meu sonho. Meus devaneios e vontades se tornavam realidade. Pouco importava se alguém pudesse descobrir. A minha tarefa, naquele momento de extrema luxúria e poder, era arrancar mais gemidos daquela loira que sempre bagunçava meus pensamentos. Mayara estava entregue, com o corpo torporoso, suada e quente. Encarava-me fundo nos olhos, com a boca entreaberta, querendo mais. Seu corpo falava e estávamos numa conversa íntima, sem palavras, sendo guiados pela intensidade de nossas vontades e desejos. Sua vagina devia estar inundada querendo mais de mim. Quando voltei e percebi o que se passava, tive um surto de realidade e parei, sobressaltado, e disse que não poderia continuar aquilo tudo.
— Dona... — interrompi, lembrando que deveria chamá-la pelo nome. — Isso é errado, precisamos parar por aqui, ou eu perderei meu emprego. — Alertei-a. Porém, a tentativa foi em vão. — Preciso voltar à loja e continuar meu trabalho. Daqui a pouco meu celular vai tocar com o Sr. Alberto estará me procurando. Por favor, deixe-me ir. Vai ser melhor para os dois.
Aquelas palavras foram proferidas da boca para fora. Eu queria continuar ali, mas era errado. Estava sendo antiprofissional, mentiroso e antiético perante os meus patrões. Uma verdadeira farsa.
Mas, como resistir ao corpo de Mayara? Aquela poderia ser a primeira e última vez que estávamos nos pegando com tanta vontade, intensidade e desejo.

Olhando-me com tesão e vontade, proferiu: 
— Eu sei que você sempre me desejou. Ou pensa que eu nunca observei a forma como me olha dentro da loja? Nunca conseguiu disfarçar seu desejo em me ter. Vamos aproveitar, por favor! Sempre tive tesão em você. Sempre gostei de homens assim, com voz, jeito de homem, cheiro de homem. Se você soubesse como a sua virilidade me tira o chão e me atrai, não me deixaria aqui, sozinha, na vontade. E digo mais: semana passada você até agachou enquanto arrumava a prateleira, tentando disfarçar a vontade que tinha de mim. Pensa que não notei? Eu fiquei louca, querendo abrir seu zíper e fazer o trabalho ali mesmo. — Fiquei perplexo quando ouvi aquilo. Mayara já me desejada. Havia notado minha ereção. Que vergonha senti de mim naquele momento. Mas, já era tarde. Estávamos imersos numa onda de tesão e o sexo era iminente. Entreguei-me aos desejos de May e deixei logo algo bem claro:
— Não tenho condições de tê-la como namorada. Sou humilde demais, você é rica, jovem, emancipada. — Aproveitei a oportunidade para esclarecer minha vida, tirando as esperanças de Mayara caso ela quisesse que algo se estendesse. Eu não poderia continuar nem seguir em um relacionamento com uma mulher da zona Sul. Seria humilhante para mim não conseguir acompanhar o ritmo de sua vida. O que eu ganhava por mês, com meu trabalho, era o equivalente a um passeio que Mayara fazia com as amigas. 
— Vou fingir que não ouvi nada disso, Carlos. Mas também quero deixar algo muito claro a você. Entenda: eu nunca te assumiria como namorado por conta da minha família e do meu namorado. Ele é médico, filho de um outro médico muito famoso aqui no Rio. Porém, vive para estudar. E isso me deixa um pouco frustrada, com outras necessidades e vontades. Como você está vendo, tenho sede. Eu tenho sede de sexo todos os dias e vivo me masturbando porque ele não comparece. Minha vida com Matheus não é nada fácil. É fria e monótona. Mas sei que é com ele que vou alcançar mais prestígio social, alcançar um certo status dentro da sociedade carioca. Meu sogro é dono de muitas clínicas de estética, vive dando entrevistas na televisão. A vida na zona Sul tem dessas coisas que eu acredito ser uma realidade distante para você. 

Mayara era uma jovem linda, rica, quente. E interesseira. Traidora. Adúltera. Por um momento fiquei reflexivo em relação aquela declaração que acabara de fazer. Seu noivo poderia não comparecer na cama, ser fraco no sexo, mas era quem lhe ajudava e dava apoio. Esse tipo de ingratidão eu não aceito de ninguém e, por um minuto, me coloquei no lugar de Matheus. Como poderia viver com uma menina tão fútil e viciada em sexo? Esses questionamentos passaram com rapidez. Ali, na minha frente, eu possuía aquela que sempre foi minha fonte de prazer em casa, mesmo que em pensamentos. 

Na tentativa de me convencer a continuar com aquilo tudo, não resistiu e desabafou: 
— Sempre desejei te atacar, mas na loja é praticamente impossível e eu nunca quis te prejudicar com os patrões. Permita-se pelo menos hoje, por favor. Olha como você está! Olha o volume da sua calça! Deixa eu ser sua, vai. Por favor...
Nesse momento, a menina, já louca por sexo, enfiou a mão no meio das minhas calças e sentiu meu membro teso, duro, latejando. Eu já podia sentir a baba saindo do meu pênis, louco para penetrar aquela boceta que eu imaginava ser apertadinha e rosada. — Prometo ser rápida, disse Mayara, descontrolada, trêmula, agitada. Querendo muito de mim.
Com os olhos entreabertos, vi aquela beldade loira agachando à minha frente. Seus olhos eram de um castanho claro límpido. Ela agarrou meu membro com muita vontade e começou a me chupar igual uma bezerra faminta por leite.
Afastei seu cabelo e segurei-o pela nuca, controlando o vai e vem frenético de sua cabeça. Geralmente eu demorava a gozar, mas com Mayara me tendo daquela maneira seria um desafio não chegar ao orgasmo e explodir com pressa e precocidade.  
— Nossa, como é grande e grosso. Lindo, cheio de veias e cabeçudo! Há tempos não encontrava um assim pela frente. Por isso amo os negros. Não me enganei com você, ainda bem. Ganhei meu dia. — Disse empolgada e apressada em arrancar meu líquido. Suspirei fundo. Mayara me chupava com maestria. Babava bastante, o que me deixava mais excitado. Olhava por cima, com seu olhar provocante, e pedia que eu estocasse em sua boca com mais força. Fiquei louco com aquilo...
Me impressionava o jeito como falava, com tanta desenvoltura e tranquilidade. Mayara era, antes de mais nada, livre. Jamais desconfiei que tivesse um namorado e que o traía de forma corriqueira. Como fui criado em berço católico, de vez em quando ouvia minha mãe dar uns alertas a meu pai quando o assunto era algo relacionado a traições e isso, de certa forma, causava-me um pouco de desconforto. Não conhecia o tal Matheus, mas poderia ser eu do outro lado, sendo traído, mesmo com tanta dedicação à carreira, lutando para ter uma vida mais segura e tranquila. Entretanto, meu pensamento era um pouco tolhido porque o namorado de Mayara com certeza não estava “sofrendo” para seguir na vida como eu imaginava. Aquilo era uma construção que eu fazia a meu respeito, pondo meu contexto de vida na vida do outro rapaz. Mas isso pouco importava. Ali, à minha frente, eu tinha uma delícia de mulher que sabia ser fêmea, faminta por sexo. 
May ficou me chupando vorazmente por mais de dez minutos e eu enlouquecia quando ela passeava a língua molhada na cabeça do meu pau, que naquele momento já estava roxa e pulsante de tanto tesão. Meu saco, já dolorido, queria expulsar tudo que tinha dentro. 
Fiquei estarrecido com a prática na qual fazia tudo. Sua boca era articulada, quente, macia. Molhada. Mordiscou minha glande e olhou para cima, com um sorriso de satisfação no rosto. Aquela imagem de moça bonita e bem-criada, de família, havia sido desconstruída. May havia me chupado como nenhuma mulher havia feito antes. Depois daquele espetáculo de boquete, ela me puxou e me convidou para o seu quarto. Quase hesitei em ir, afinal, estávamos indo longe demais com aquilo tudo.
Sentei à beira da cama, sem camisa, com o pau ainda duríssimo e a calça aberta, à espera de mais luxúria e prazer.
Encarando-me como uma felina selvagem, Mayara ordenou:
—Tira logo essa calça, quero sentar gostoso nessa piroca e não posso perder tempo. — Fiquei um pouco assustado com o vocabulário que utilizava. Mayara não tinha máscaras, estava em um momento de completa entrega, onde tudo era permitido.
— Cheguei da academia com os hormônios à flor da pele e preciso foder de qualquer jeito. Ou vai me dizer que não comer minha bocetinha? Olha como ela está. — Mostrou-me sua vulva exposta, latejante e molhada. Suspirei forte, louco de vontade de penetrá-la com força. A garota guiou meus dedos e ficou se masturbando com a minha mão. Eu não podia acreditar que meus devaneios sexuais um dia se tornariam realidade. Muito menos daquela forma, tão intensa e deliciosamente perigosa. A vagina de Mayara era como eu havia imaginado, exceto pela depilação, que tinha tipo um bigodinho do Hitler. Achei engraçado.
Logo em seguida, a menina fogosa ficou de quatro, me fez um convite para penetrá-la por trás e aproveitou para fazer um pedido ousado: — Quero levar uns tapas e ser enforcada, de leve. Pode ser? Sempre tive vontade de ser possuída com um pouco de violência. Sempre admirei suas mãos, tão fortes e pesadas. Deve ser uma delícia sentir um tapa quente vindo de você.
Quase surtei. Enlouqueci de tesão e fiquei ainda mais excitado com aquelas declarações, tão verdadeiras e intensas.
Não acreditei quando a ouvi pedir um tapa! Ela queria um sexo pesado, selvagem e até um pouco doentio. Nunca tinha vivenciado algo parecido. As poucas experiências de sexo que eu tive na Bahia foram com meninas virgens, inexperientes. O sexo era algo simples e rápido, pois geralmente o fazíamos com os pais fora de casa e, com isso, tinha quer ser tudo muito rápido. Com May também precisava ter pressa, mas o clima era completamente diferente daquele ao qual eu estava acostumado.
Perguntei se não tinha camisinha e ela prontamente respondeu: — Para quê? Uma piroca gostosa como a sua não merece um preservativo. Quero sentir pele com pele, pois gozo mais fácil assim. E tem mais um detalhe: não gosto de comer banana com casca. — Sorri, achando muita graça na sua forma despojada de falar.
May fazia o estilo putona, o que me deixava ainda mais louco. Fiquei um pouco em dúvida, mas pensei: — foda-se, vai sem camisinha mesmo. Aquela boceta merecia ser penetrada por mim com vontade e força, mesmo sem proteção. Com muita prática e decidida e ter uma tarde de sexo intenso e forte, May guiou meu membro até a entrada da sua vagina. Comecei a meter, com força, e ela gemia de uma forma que me deixava endoidecido. A menina sabia fazer e colocava muitas mulheres no chinelo, sem dúvidas. Sentia meu pau sendo sugado com vontade dentro daquela vagina extremamente molhada e quente. Pulsante. A danada ainda sabia fazer um pompoarismo como ninguém — enlouqueci de tesão e tive que me controlar muito para não gozar rápido. Nunca nenhuma mulher havia feito aquilo comigo. Surtei, sentindo minha glande ser pressionada pelo seu interior.
— Está gostoso assim? Quer que eu aperte mais esse pau dentro de mim? Hein? — Encarou-me olho no olho. Tarada e doida para me fazer gozar. Mas resisti.
Depois daquela sessão deliciosa que me tirara a paz, virei-a de frente e comecei a sugar seu clitóris. Tão lindo e bem rosado, bem duro de tanta excitação. Coloquei dois dedos dentro, simulando uma penetração menos intensa. Mayara puxava minha cabeça e tentava me afogar em seu suco vaginal, completamente encharcada. Apertava o lençol da cama com muita força, bagunçando todo o lençol da cama mostrando que estava prestes a gozar, arfando de prazer. Simultaneamente apertava os seios — seus mamilos estavam duros e eriçados, cheios de tesão. Fui com vontade e comecei a passar minha língua em suas auréolas, salivando com vontade, mordendo-os de leve. Se Mayara fazia de tudo para me proporcionar extremo prazer, eu conseguia ser pior. Me dedicava ao máximo para entregar um prazer completo. Enquanto chupava seus mamilos, segurei suas mãos acima da cabeça, imobilizando-a. Num movimento de envergadura e torpor, vi o quanto May estava se deliciando com tudo aquilo. Sofrendo loucamente com os movimentos de minha língua, percorrendo seus seios, abdômen, umbigo...
— Agora chupa meu grelo com força, seu puto — ela disse, toda suada e apertando minha cabeça ainda com mais força. Bem tensa, com o corpo rígido, trêmulo. Querendo muito mais.  
Naquele momento, coloquei-a na posição de frango assado, na beira da cama e comecei a socar bem fundo e com força — Não tive dificuldade nenhuma por conta do excesso de lubrificação natural que expelira. May gritava e eu pedi que gemesse mais baixo por conta dos vizinhos. Joe, o cachorro, coitado, continuava na sala, esperando o momento de ir para o banho. Mas aquilo pouco importava.
— Nossa, como você está cheirosa. Nunca senti fragrância tão...
— Cala a boca e me fode, porra! Come essa boceta com vontade e me enche de leitinho. — May apertou meu queixo e me penetrou com seus olhos famintos por sexo, interrompendo meus elogios. Ela não economizada nos palavrões, o que me deixava ainda mais agitado e enérgico. Aqueles palavrões eram o combustível do ato. Nem me importava mais já que ela havia deixado bem claro que eu era apenas um objeto de prazer. De diversão. E isso me excitava muito. 
— Goza dentro de mim, por favor…goza, vai! — Sabia implorar como uma verdadeira devassa.
Aquilo me estremecia de tanto prazer e eu estava prestes a largar meu leite dentro daquela que até poucas horas era apenas uma cliente que eu admirava. — Quer meu leite, sua putinha? Perguntei, me entregando àquela situação louca que eu estava vivendo, usando de palavras fortes e pesadas, poucos comuns em meu repertório.
— Deixa eu sentar nele antes de gozar? Quero sentir seu pau tocando bem lá no fundo…só consigo gozar assim. — Como recusar a um pedido desses? — pensei.
Prontamente, deitei de barriga para cima e Mayara começou a cavalgar gostoso, de costas para mim. Aquela visão do meu pau, entrando e saindo da sua boceta, o bumbum grande e bem torneado, típico de uma menina que malha, serão inesquecíveis. Melei meu dedo com saliva e comecei a estimular o ânus. Ela rebolava e quicava com mais força e intensidade, pingando de suor. Totalmente entregue. — Acho que vou gozar — disse, com a voz pesada e a respiração arfante. Ela gemia alto, me apertava contra seu corpo com muita força e o sexo estava chegando ao ápice quando ouvi:  
— Ai, caralho, gozei. Puta que pariu! — Toda suada, pingando, May havia chegado nas nuvens. Fiquei orgulhoso, feliz. Satisfeito por ter proporcionado aquele momento de intenso prazer e entrega. Vibrei. Para um homem, não há nada mais delicioso do que satisfazer uma mulher na cama. Com tudo que tem direito. Sem limites para posições, tabus ou qualquer tipo de pudor.
— Vire de frente, minha putinha. —Ordenei, mudando-a de posição. — Deixa eu te foder com mais força porque estou prestes a largar meu leite dentro de você. Você não disse que queria leitinho? Então, vai ter — falei aquilo num ato de dominação, o que muito me excitava.
Àquela altura do campeonato, Mayara já estava cansada e mole. Agarrei-a pela cintura, com ela ainda por cima, e comecei a meter com muita velocidade e força. Do jeito que ela queria, quase tocando o fundo do colo do útero. Tarefa fácil para um homem bem avantajado como eu. Nos olhamos e começamos a nos beijar loucamente. Continuei com as estocadas. Alternava movimentos rápidos com mais lentos para aumentar o prazer de Mayara. Senti que estava chegando a hora de explodir dentro daquela garota e segurei com mais força. Meti com mais vontade e não me controlei....Está vindo, quer meu leite? Ah...porra! acho que vou gozar...
Tombei minha cabeça para trás e deixei tudo vir. Inundei Mayara com vontade e não segurei uma gota. A vagina ainda quente e latejante abraçava meu pau, querendo mais. Senti meu corpo com fortes espasmos depois da ejaculação, nunca havia sentido tamanho prazer depois de uma gozada tão intensa como aquela. Gozei litros. Fiquei uns quarenta segundos com o corpo trêmulo.
— Isso, vai, encheu minha bocetinha com seu leite? Não tira de dentro agora, por favor. — May continuou rebolando bem devagar, sem deixar meu pênis sair, que já amolecia aos poucos, após tanto ter gozado.
Levantou lentamente, expulsando meu gozo que escorria pelas suas pernas. Limpou com a mão e levou à boca, fazendo questão de engolir meu leite. Que cena linda. Um pouco vulgar, mas linda. Foi uma foda louca e intensa. Inesquecível. Deliciosa e proibida.
Talvez esse tenha sido o melhor tempero. Saber que estar ali, mesmo com tudo de bom e maravilhoso que havia acontecido, era algo proibido, pecaminoso.
Aquela menina ainda me proporcionaria muitos momentos de prazer. Virou minha amiga, e, de vez em quando enviava mensagens para o meu WhatsApp com frases provocativas.
Seu namoro seguiu firme, até que um dia descobri que ela estava noiva do tal estudante de medicina, o Matheus. Mas aquilo pouco importava. Da nossa amizade só saiu a cumplicidade e muito sexo. Um sexo louco, que tirava meu sono e despertava o meu lado mais selvagem e violento. Após a chegada de May, um novo Carlos surgiu e cresceu. Mais destemido, mais corajoso e mais feliz.
Retornei ao petshop com Joe, e meu gerente nem pode sonhar com esse episódio.
A vida voltou ao normal, na Quinta seguinte a loirinha safada apareceu para dar o banho do cachorro, e me olhava de relance, com um sorriso safado no rosto. Nenhum funcionário decifraria nossos códigos.
Era comum eu receber algo o tipo: “estou com saudade de tomar o seu leitinho”, ou então “estou na fila do supermercado, toda melada, pensando em você”.
Porém, nossos encontros foram se tornando mais frequentes, mais demorados e uma vez meu supervisor questionou minhas ausências, que eram costumeiras depois que desvendei o outro lado de Mayara. Quase todo dia sempre inventava algo a fazer fora da loja. Nossos encontros eram sigilosos e descobrimos um excelente motel a algumas quadras dali. Mas o meu medo era latente e eu precisava terminar com aquilo tudo. Entre a razão e o coração, literalmente. Que merda!
Depois de alguns meses de encontros casuais, comecei a inventar algumas desculpas. Mantive certa distância após um período de encontros e transas intensas. Ainda tinha o fato de eu poder ser descoberto ou que algum porteiro fosse pago para investigar a vida de May. Enfim, muita coisa passava pela minha cabeça e fui me distanciando, apenas. Fiquei com medo de estragar tudo que eu havia construído naquele estabelecimento. Minha vida dependia daquele trabalho e uma decisão mais dura e incisiva eu precisaria tomar o mais breve possível.
Até que uma vez fiquei surpreso com uma mensagem um pouco mais romântica de May. Ela havia pedido para eu ouvir a música “Negue”, de Maria Bethânia. Fui em busca da música e os versos diziam assim:
Negue seu amor e o seu carinho
Diga que você já me esqueceu
Pise machucando com jeitinho
Este coração que ainda é seu
Diga que meu pranto é covardia
Mas não se esqueça
Que você foi meu um dia
Diga que já não me quer
Negue que me pertenceu
Que eu mostro a boca molhada
Ainda marcada pelo beijo seu

Negue seu amor, o seu carinho
Diga que você já me esqueceu
Diga que meu pranto é covardia
Mas não se esqueça
Que você foi meu um dia
Diga que já não me quer
Negue que me pertenceu
Que eu mostro a boca molhada
Ainda marcada pelo beijo seu

Diga que já não me quer
Negue que me pertenceu
Que eu mostro a boca molhada
Ainda marcada pelo beijo seu

“Diga que já não me quer...”— Entendi que Mayara estava se sentindo rejeitada e chegou a fazer algumas cobranças pelo WhatsApp. Mas preferi mantê-la nas minhas melhores memórias e sentimentos, em um espaço especial.
Pensar em Mayara era reviver felicidade, alegria, prazer, euforia. Era me sentir completo, preenchido de um vazio que me assolava quando estava sozinho em casa.
Suas idas à loja passaram a ser mais frequentes e eu entendia os motivos que a conduziam até lá. Eu, tentando fugir, sempre procurava alguma tarefa pendente no estoque para evitar qualquer tipo de contato.
“Já entendi. Você não me quer mais. É um direito seu! Mas fique sabendo que isso não se faz. Você me cativou, me ganhou na cama e quando bem quis começou a se afastar. Não entendo seus motivos e nem quero entendê-los.... Fica tranquilo, vou me afastar. Só peço que guarde tudo que vivemos com carinho e sigilo. Sei que não terei outro igual a você na minha cama. Sinta-se orgulhoso e privilegiado. Um presente que a vida me deu e que infelizmente tive que devolver. Sim, sou egoísta e covarde. Uma traíra interesseira que só pensa em viver uma vidinha de luxo, aparência, diversões efêmeras. No entanto, você está fora disso tudo. Foi meu contraponto, meu ato escondido de redenção. Fogo. Paixão. Ardi, estremeci. Viajei. Com você tive meus momentos de plenitude que poderiam ser eternos. Quem sabe um dia? Quem sabe nunca? Adeus e siga em paz. Você merece mais, muito mais! Seja feliz...”
Fiquei perplexo com tamanha declaração. Era difícil ser indiferente à Mayara. Mas eu precisava resistir. Ser firme e decidido para não correr o risco de ter problemas. De perder o emprego. De ferir a confiança dos meus patrões. Fui covarde e egoísta. A razão falou mais alto e eu enviei a seguinte mensagem em resposta:
“Se eu soubesse que o amor é coisa aguda
Que tão brutal percorre início, meio e fim
Destrincha a alma, corta fundo na espinha
Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir...
São versos de uma música chamada Saga. Resumidamente é isso. — senti o peso de uma decisão extremamente dolorida e difícil, e pedi: por favor, me entenda e seja feliz. Muito feliz.”
“Seja feliz, meu querido. Sinta-se abraçado e beijado por mim. “
Aquela mensagem curta e ríspida foi de cortar o coração.
“Obrigado, Mayara, por ter sido tudo o que foi para mim. Um novo Carlos existe graças a você. Lembrarei com saudade e carinho tudo o que vivemos um dia. Mesmo sem ter sido minha de forma plena e completa, sua semente, plantada em meu coração, está germinando e a cada dia cresço. Seja feliz também. Tenha em mim um amigo sincero e fiel. “
Foi a mensagem mais difícil que eu já havia escrito em toda a minha vida. May divagava entre o certo e o errado. E eu, cúmplice, não tinha menor culpa por conta daquela traição. Se tirássemos tudo que existia ao nosso redor, com certeza seríamos muito felizes. Porém, a vida ganha rumos inesperados e precisamos estar atentos, alertas, para não chegar em um futuro próximo e nossas escolhas se voltarem contra nós mesmos. Talvez, lá na frente, a vida cobraria o preço daquela traição a um de nós. Talvez, lá na frente, sentiríamos o gosto amargo de um ato de covardia. Poderíamos simplesmente jogar tudo para o alto, ou, quem sabe, lutar para que transpuséssemos as barreiras que a sociedade nos impunha. Talvez nada de bom pudesse acontecer.
Talvez. Talvez. E Talvez.
A vida é sempre assim, cheia de dúvidas e devaneios?
Anos mais tarde soube que havia casado com o tal médico e esperava um bebe. Aquela notícia desceu espremendo minha garganta. Engoli seco, triste. Passei o dia cabisbaixo pensando em tudo que tínhamos vivido. O sabor da paixão é realmente doce como costumam dizer. Mas paixão não basta, infelizmente.
Sofri. Vivi intensamente pequenos momentos ao lado daquela mulher. Ao final de tudo, chorei. Mas nunca me arrependi.
Sempre existirá em meu coração um local muito especial, de afeto e carinho, reservado à Mayara.


Pavuna, Rio de Janeiro, em 17 de abril de 2016.  



-->