sexta-feira, 30 de março de 2012

A DOAÇÃO É UM ATO DE AMOR.

Antes que você comece a achar que esse texto vai falar de doação de órgãos ou de sangue, não, não é sobre esse tipo de doação que vou abordar. Vou falar sobre a doação de sentimentos. Algo bastante confuso e complexo, que possui uma gama de coisas interconectadas e que afetam direta ou indiretamente quem é doador e receptor.
Vamos lá! Eu acordo de manhã, Eu escovo os dentes, Eu faço minha higiene pessoal, Eu vou para o trabalho, Eu tenho que alcançar minhas metas, Eu tenho que pagar contas, Eu tenho que estar bem para os meus filhos, esposa... A vida está cheia de cobranças e responsabilidade. Sentimentos esses que nos desviam do belo, da leveza e da satisfação pessoal. Tudo está muito urgente e conturbado. Nós, seres humanos, precisamos de muito pouco para viver bem. Os excessos são criados por “n” motivos – apelação da mídia, comparação alheia e cobiça. Seria tão melhor se pudéssemos simplesmente nos livrar desse tormento.
Nesse mar de estímulos, novidades e facilidades, estamos juntos, mas ao mesmo tempo desconectados. O pai chega do trabalho cansado, mal fala com os filhos e já pensa em dormir para no dia seguinte começar tudo outra vez, e com mais cansaço, mais insatisfação e com uma obrigação que o mundo globalizado impõe: se você não trabalhar, não tem! Não tem a viagem de final de ano (que pode muito bem ser substituída por um passeio no parque, algumas idas mais freqüentes às praias ou simplesmente dedicar mais do tempo para ficar com o filho no parquinho – que muita das vezes implora por atenção).
Estamos mais egoístas, mais ávidos pelo consumo e o outro sempre representa “mais”, porque não conseguimos enxergar no nosso íntimo nossas qualidades, tão naturais e úteis. Somos consumidos pela idéia de que o TER é mais importante do que SER. Não queremos abrir mão de fazer aquela viagem (para mostrar no Facebook que você está visitando o lugar dos sonhos de muita gente), ou temos que trocar o carro (afinal de contas, seu vizinho comprou um “zero quilômetro” e você não pode ficar “por baixo”), a casa deve ser reformada todo final de ano, não é mesmo? (o que seus familiares irão pensar se eles virem que entra ano e sai ano e a sua colcha de cama continua sendo a mesma de décadas?). Observe que, na maioria das vezes, tomamos decisões de forma inconsciente, para mostrar ou tentar justificar ao próximo nossos sucessos e fracassos. As redes sociais, tão comuns atualmente, refletem isso de uma forma bem clara. Você fica sabendo quase que instantaneamente que o seu “amigo” está muito bem pelo simples fato de você ler: “Hoje o dia amanheceu lindo, bom dia a todos e muitas felicidades no coração sempre”. A vida das pessoas não é resumida a um perfil de internet. Será mesmo que esse amigo está tão feliz assim? Garanto que em 70% dos casos a pessoa está numa fossa daquelas e não quer “dar o braço a torcer” e parecer infeliz para os outros. Afinal de contas, na internet, todo mundo está sempre muito feliz, não é verdade? Por que você seria um dos únicos a parecer o patinho feio do momento?
Atualmente é extremamente difícil encontrar pessoas que estejam, de fato, dispostas a ajudar. Por isso ficamos apreensivos de demonstrar fraquezas ou insucessos. Está tudo muito frio e indiferente. Está ocorrendo um processo de autodestruição a longo prazo. O homem está, literalmente, cavando a própria cava. É muito triste ter que dizer isso, mas a quantidade de pessoas que pensam no próximo de forma consciente é extremamente pequena e quase que irrelevante. O sofrimento na maioria das vezes está seguido de silêncio e, para amenizar a dor, as pessoas utilizam de artifícios que vão gerar um bem-estar momentâneo. Agora sim, o carro foi trocado, viajamos, reformamos a casa... E o coração? Continua frio e vazio, o filho vai continuar sentindo a ausência do pai, a esposa vai continuar sendo colocada “de lado” por causa dos problemas cotidianos. A vida vai seguindo um caminho torto, onde a cerveja no final de semana ou o futebol de domingo passam a ser a válvula de escape para os estresses do trabalho e da casa. Escrevo dessa forma porque foi isso que eu vivenciei por muitos anos dentro da minha própria casa. Não utilizei outros exemplos mais comuns e corriqueiros porque não teria tanta propriedade para abordá-los com segurança.
Inúmeras vezes me senti ignorado por meu pai. Ficava horas comentando sobre as novidades do colégio, mostrava os trabalhos, as notas altas – e quando eu esperava uma reação positiva com relação aquilo tudo eu ouvia: “depois você me mostra isso porque agora estou vendo o jornal” – e eu me retirava, com uma frustração no peito, como se nada daquilo, que para mim era tão florido e instigante, para o meu pai não fazia o menor sentido.
Ame as pessoas de forma incondicional, e quando sentir que não está sendo recíproco, entenda que a falta de sensibilidade, compaixão e amor estão tomando conta do mundo. Entenda também que ninguém pode ser do jeito que idealizamos que os defeitos (na maioria das vezes) são sobrepostos às qualidades e que, no fim das contas, você somente será feliz e pleno se tiver a certeza de que os SEUS sentimentos estão sendo doados e baseados em valores como a sinceridade, o carinho e o amor. Porque no final das contas, tudo acontece entre VOCÊ e DEUS e nunca foi entre VOCÊ e AS OUTRAS pessoas.